Marginalização digital e governo eletrônico: como garantir direitos previdenciários e assistenciais na cibersociedade?
Metadata
Show full item recordAuthor
Lourenço Mendes, BeatrizEditorial
Universidad de Granada
Departamento
Universidad de Granada. Programa de Doctorado en Ciencias JurídicasMateria
Proteção Social Administração pública Tecnologias de Informação e Comunicação Direitos fundamentais Marginalização digital Protección social Administración pública Tecnologías de la Información y la Comunicación Derechos fundamentales Brecha digital Social protection Public administration Information and communication technologies (ICT) Fundamental rights Digital divide
Date
2024Referencia bibliográfica
Lourenco Mendes, Beatriz. Marginalização digital e governo eletrônico: como garantir direitos previdenciários e assistenciais na cibersociedade?. Granada: Universidad de Granada, 2024. [https://hdl.handle.net/10481/90383]
Sponsorship
Tesis Univ. Granada.; Tesis Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)Abstract
As tecnologias de informação e comunicação, como símbolos do tempo presente, têm
impactado diretamente no exercício da cidadania. A crescente popularização da internet ao
redor do mundo gerou um deslocamento do eixo das atividades civis e institucionais para o
entorno digital. Contudo, os benefícios extraídos a partir da navegação on-line não são
usufruídos de forma igualitária. De modo diverso, a literatura sobre o assunto demonstra que o
fenômeno da divisão digital está se aprofundando, pois, em que pese o acesso tenha se
democratizado, a onipresença da internet acarreta um uso a cada dia mais complexo da rede.
Nesse contexto, vislumbra-se que a desigualdade digital é uma nova faceta das desigualdades
sociais estruturais. Isso quer dizer que grupos já marginalizados em decorrência de variáveis
como renda, escolaridade, localização geográfica e idade tendem a permanecer excluídos ou,
ainda, sofrer um agravamento da situação de segregação, com a migração das atividades
desempenhadas outrora de forma analógica para o ambiente digital. Apesar disso, há uma
tendência internacional de transferência da atuação do Poder Público às plataformas e sites
institucionais, sob a bandeira da “modernização” tecnológica, principalmente após a eclosão da
pandemia de coronavírus. Ocorre que alguns serviços públicos de competência do Estado-
Administração são elevados à categoria de direitos fundamentais sociais, os quais integram o
conceito de cidadania e são imprescindíveis para o exercício dos direitos civis e políticos. Esse
é o caso da previdência e da assistência social, as quais impõem uma obrigação positiva ao
Estado de garantir a segurança alimentar àqueles que se encontram em situação de risco social.
Tendo em vista o espaço de homogeneidade entre os beneficiários das referidas políticas
públicas e a parcela de marginalizados digitais, a presente pesquisa busca responder ao seguinte
questionamento: “Até que ponto é possível condicionar o acesso a direitos previdenciários e
assistenciais ao ambiente digital no Brasil?” Metodologicamente, emprega-se o método
hipotético-dedutivo para a abordagem do problema. O estudo consiste numa pesquisa
exploratória, tendo em vista a baixa incidência da temática na literatura científica. Portanto,
vale-se pontualmente do método de estudo comparado, a fim de buscar inspirações de fontes
de regulação tecnológica em matéria de direitos sociais no sistema espanhol, além da coleta e
análise de dados estatísticos sobre o uso da internet no cenário brasileiro. Por fim, identificouse
que a concretização dos direitos prestacionais no contexto do e-Governo enfrenta dois
desafios principais e independentes entre si: a) o condicionamento na solicitação de direitos
previdenciários e assistenciais ao entorno digital acarreta a exclusão de potenciais beneficiários de tais prestações, em razão do fenômeno da marginalização digital; b) o uso de inteligência
artificial por parte do Poder Público para dar resposta a essas demandas é temerário, eis que
ainda se padece de um marco regulatório específico. Ao fim e ao cabo, confirma-se
integralmente a hipótese principal testada, de que o uso de ferramentas tecnológicas como
condição sine qua non de acesso às referidas prestações descumpre os preceitos constitucionais
de igualdade de tratamento, não discriminação e da universalidade das políticas de seguridade
social. Las tecnologías de la información y la comunicación, como símbolo de la era actual, han tenido
un impacto directo en el ejercicio de la ciudadanía. La creciente popularización de Internet en
todo el mundo ha desplazado el foco de las actividades civiles e institucionales al entorno
digital. Sin embargo, los beneficios de la navegación en línea no se disfrutan por igual. Por otro
lado, la literatura sobre el tema muestra que el fenómeno de la brecha digital se está
profundizando porque, aunque el acceso se ha democratizado, la omnipresencia de internet hace
que el uso de la red sea cada vez más complejo. En este contexto, la desigualdad digital se
considera una nueva faceta de las desigualdades sociales estructurales. Esto significa que
grupos ya marginados por variables como la renta, la escolaridad, la localización geográfica y
la edad tienden a permanecer excluidos o incluso a sufrir un agravamiento de la situación de
segregación, con la migración de actividades antes realizadas de forma analógica al entorno
digital. A pesar de ello, existe una tendencia internacional a transferir la actuación de la
Administración Pública a plataformas institucionales y sitios web, bajo la bandera de la
"modernización" tecnológica, especialmente tras el estallido de la pandemia de coronavirus. De
hecho, algunos servicios públicos que son competencia de la Administración del Estado han
sido elevados a la categoría de derechos sociales fundamentales, que forman parte del concepto
de ciudadanía y son esenciales para el ejercicio de los derechos civiles y políticos. Es el caso
de la previdência y de la asistencia social, que imponen al Estado la obligación positiva de
garantizar la seguridad alimentaria a las personas en situación de riesgo social. Teniendo en
cuenta la homogeneidad entre los beneficiarios de estas políticas públicas y los marginados
digitales, esta investigación trata de responder a la siguiente pregunta: "¿Hasta qué punto es
posible condicionar el acceso a los derechos de previdência y asistencia social al entorno digital
en Brasil? “Metodológicamente, se utiliza el método hipotético-deductivo para abordar el
problema. El estudio consiste en una investigación exploratoria, dada la escasa incidencia del
tema en la literatura científica. Por lo tanto, hace uso del método de estudio comparativo con el
fin de buscar inspiración en las fuentes de regulación tecnológica en materia de derechos
sociales en el sistema español. Además, se ha realizado una recopilación y análisis de datos
estadísticos sobre el uso de Internet en Brasil. Finalmente, se identificó que la realización de
los derechos prestacionales en el contexto de la e-Administración se enfrenta a dos retos
principales e independientes: a) condicionar la solicitud de derechos de seguridad y previsión
social al entorno digital conduce a la exclusión de potenciales beneficiarios de dichas prestaciones, debido al fenómeno de la marginación digital; b) el uso de la inteligencia artificial
por parte de las Administraciones Públicas para dar respuesta a estas demandas es temerario,
ya que aún se carece de un marco normativo específico. A la postre, la principal hipótesis
contrastada se confirma plenamente: la utilización de herramientas tecnológicas como
condición sine qua non para el acceso a estas prestaciones no se ajusta a los preceptos
constitucionales de igualdad de trato, no discriminación y universalidad de las políticas de
Seguridad Social. Information and communication technologies, as a symbol of the present age, have had a direct
impact on the exercise of citizenship. The growing popularity of the internet around the world
has shifted the focus of civil and institutional activities to the digital environment. However,
the benefits of online browsing are not enjoyed equally. On the other hand, the literature on the
subject shows that the phenomenon of the digital divide is deepening because, although access
has become more democratic, the ubiquity of the internet means that use of the network is
becoming increasingly complex. In this context, we can see that digital inequality is a new facet
of structural social inequalities. This means that groups that are already marginalized due to
variables such as income, schooling, geographical location and age, tend to remain excluded or
even suffer a worsening of the situation of segregation, with the migration of activities
previously carried out in an analogue way to the digital environment. Despite this, there is an
international trend towards transferring public services to institutional platforms and websites,
under the banner of technological "modernization", especially after the outbreak of the
coronavirus pandemic. In fact, some public services that are the responsibility of the State-
Administration are elevated to the category of fundamental social rights, which are part of the
concept of citizenship and are essential for the exercise of civil and political rights. This is the
case with welfare and social assistance, which impose a positive obligation on the state to
guarantee food security to those at social risk. In view of the homogeneity between the
beneficiaries of these public policies and the digitally marginalized, this research seeks to
answer the following question: "In what way is it possible to make access to social security and
welfare rights conditional on the digital environment in Brazil?” Methodologically, the
hypothetical-deductive method is used to approach the problem. The study consists of
exploratory research, given the low incidence of the subject in scientific literature. Therefore,
it makes use of the comparative study method in order to seek inspiration from sources of
technological regulation in terms of social rights in the Spanish system, as well as collecting
and analyzing statistical data on internet use in Brazil. Finally, it was identified that the
realization of benefit rights in the context of e-Government faces two main and independent
challenges: a) conditioning the request for social security and welfare rights to the digital
environment leads to the exclusion of potential beneficiaries of such benefits, due to the
phenomenon of digital marginalization; b) the use of artificial intelligence by the Public
Authorities to respond to these demands is reckless, since a specific regulatory framework is still lacking. At the end of the day, the main hypothesis tested is fully confirmed: the use of
technological tools as a sine qua non condition for access to these benefits fails to comply with
the constitutional precepts of equal treatment, non-discrimination and the universality of social
security policies.