A precarização do trabalho e a concepção de vida nua: os operadores de telemarketing no contexto da necropolítica
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Camara Norat, RafaelEditorial
Universidad de Granada
Departamento
Universidad de Granada. Programa de Doctorado en Ciencias Juridicas; Universidade Federal da ParaibaMateria
Operadores de telemarketing Precarização do trabalho Necropolítica Vida nua Telemarketing operators Precariousness of work Moral harassment Bare life Teleoperadores Trabajo precario Nuda vida
Date
2023Fecha lectura
2023-04-28Referencia bibliográfica
Camara Norat, Rafael. A precarização do trabalho e a concepção de vida nua: os operadores de telemarketing no contexto da necropolítica. Granada: Universidad de Granada, 2023. [https://hdl.handle.net/10481/83027]
Sponsorship
Tesis Univ. Granada.Abstract
A discussão acerca da precarização do trabalho, inevitavelmente, passa pelo exame das
modificações que estão acontecendo no universo do trabalho. Nesse aspecto, não se pode
olvidar a influência da hegemonia do capitalismo, materializada pelas mudanças nos direitos
trabalhistas e que acarretam perdas salariais, de benefícios sociais, de segurança e higiene no
trabalho, de proteção sindical, bem como a perda das proteções sociais. Dentre essas mutações
do mundo do trabalho, o setor de serviços superou a indústria como segmento que mais emprega
hodiernamente, e as novas tecnologias informacionais criaram um rol de empregos no setor
terciário, ganhando destaque os operadores de telemarketing de Call Centers. Apesar de a
função do teleoperador estar atrelada ao uso de computadores e sistemas de alta tecnologia, as
técnicas e métodos aplicados na organização e na produtividade do trabalho ainda se
assemelham àquelas antes observadas na indústria de transformação. Dados do Sindicato dos
Trabalhadores em Telemarketing (SINTRATEL, c2016) relacionados a doenças do trabalho
apontam que 36% desses trabalhadores sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30%, de
transtornos psíquicos, e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz. Dentre os
transtornos psíquicos, há relatos de suicídio. Os índices alarmantes de adoecimento no trabalho
dessa categoria colocam esses trabalhadores em situação de Vida Nua (AGAMBEN, 2002),
visto que essas empresas promovem o assédio moral organizacional, acarretando a enfermidade
laboral, que pode levar até a morte. Além disso, a falta de ação pelo Estado por meio de uma
regulamentação adequada, uma vez que tramita no Congresso Nacional há mais de dez anos
Projeto de Lei que regulamenta a profissão de operador de telemarketing, permite que o deixar
morrer se torne aceitável, evidenciando a manifestação da necropolítica (MBEMBE, 2018).
Levando-se em consideração essas ponderações, soergue-se a questão central que conduz este
trabalho: Partindo-se de uma compreensão ampliada do conceito agambeniano de Vida Nua,
sendo praticada contra os trabalhadores hodiernos, sobretudo, os operadores de telemarketing,
qual a relação entre essa vivência de desproteção social e a execução da necropolítica perpetrada
contra essas pessoas e quais as implicações dessa relação na saúde desses trabalhadores e na
salvaguarda de direitos humanos e trabalhistas? A hipótese é que a precarização do trabalho
atinge especialmente o setor de telemarketing, no qual a “flexibilização” das condições laborais
desses trabalhadores se expressa de maneira bastante contundente devido à própria estrutura
desse setor, no qual tudo se converte em precariedade. Assim, objetiva-se investigar a
precarização do trabalho com enfoque no setor de telemarketing, se esses trabalhadores se
enquadram nas concepções de vida nua e necropolítica e quais as repercussões dessa relação na
saúde desses trabalhadores e na salvaguarda dos direitos humanos e trabalhistas. A
compreensão da precarização vivenciada pelos operadores de telemarketing restou ampliada
(vida nua e necropolítica) pela abordagem da realidade na perspectiva da sociologia jurídica.
Faz-se uso da pesquisa bibliográfica e de campo e desenvolve-se uma análise qualitativa dos
prontuários disponibilizados pelo Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador de
João Pessoa-PB (CEREST-JP), referentes ao período de 2018 a 2021. A partir da apreciação
dos prontuários, neste estudo, confirma-se a hipótese de que os operadores de telemarketing são
acometidos pelo adoecimento laboral oriundo da precarização das relações no ambiente laboral The discussion about the precariousness of work, inevitably, involves an examination of the
changes that are taking place in the world of work. In this aspect, one cannot forget the influence
of the hegemony of capitalism, materialized by changes in labor rights and which lead to loss
of wages, social benefits, safety and hygiene at work, union protection, as well as the loss of
social protections. Among these changes in the world of work, the service sector surpassed
industry as the segment that employs the most nowadays, and the new informational
technologies created a list of jobs in the tertiary sector, with the call center telemarketing
operators being highlighted. Although the function of the teleoperator is linked to the use of
high-tech computers and systems, the techniques and methods applied in the organization and
productivity of work are still similar to those previously observed in the manufacturing industry.
Data from the Telemarketing Workers Union (SINTRATEL, c2016) related to occupational
diseases indicate that 36% of these workers suffer from repetitive strain injury (RSI), 30% from
psychological disorders, and 25% have some hearing or voice loss. Among the psychological
disorders, there are reports of suicide. The alarming rates of illness at work in this category
place these workers in a situation of Bare Life (AGAMBEN, 2002), once these companies
promote organizational moral harassment, resulting in occupational illness, which can lead to
death. In addition, the lack of action by the State through proper regulation, once it has been
processed in the National Congress for more than ten years a Bill that regulates the profession
of telemarketing operator, allows the act of letting the person die become acceptable,
evidencing the manifestation of necropolitics (MBEMBE, 2018). Taking these considerations
into account, the central question that drives this work is raised: Starting from an expanded
understanding of the Agambenian concept of Bare Life, being practiced against today’s
workers, especially telemarketing operators, what is the relationship between this experience
of social lack of protection and the execution of the necropolitics perpetrated against these
people and what are the implications of this relationship on the health of these workers and on
the safeguarding of human and labor rights? The hypothesis is that the precariousness of work
affects especially the telemarketing sector, in which the “flexibilization” of the working
conditions of these workers is expressed in a very forceful way due to the structure of this
sector, in which everything becomes precarious. Thus, in this thesis, the objective is to
investigate the precariousness of work with a focus on the telemarketing sector, whether these
workers fit into the concepts of bare life and necropolitics and what are the repercussions of
this relationship on the health of these workers and on the safeguarding of human and labor
rights. The understanding of the precariousness experienced by telemarketing operators was
expanded (bare life and necropolitics) by approaching reality from the perspective of sociology
of law. Bibliographic and field research are used and a qualitative analysis of the medical
records provided by the Regional Reference Center in Occupational Health from João Pessoa-
PB (CEREST-JP), for the period from 2018 to 2021. From the assessment of the medical
records, in this study, the hypothesis that telemarketing operators are affected by occupational
illnesses arising from the precariousness of relationships in the work environment is confirmed La discusión sobre la precariedad del trabajo pasa, inevitablemente, por el examen de los
cambios que se están produciendo en el mundo del trabajo. En este aspecto, no se puede olvidar
la influencia de la hegemonía del capitalismo, materializada por cambios en los derechos
laborales y que conducen a la pérdida de salarios, beneficios sociales, seguridad e higiene en el
trabajo, protección sindical, así como la pérdida de la protección social. Entre estos cambios en
el mundo del trabajo, el sector servicios superó a la industria como el segmento que más emplea
en la actualidad, y las nuevas tecnologías de la información han creado una lista de puestos de
trabajo en el sector terciario, destacando los operadores de telemarketing de call center. Aunque
la función del teleoperador está ligada al uso de computadoras y sistemas de alta tecnología, las
técnicas y métodos aplicados en la organización y productividad del trabajo siguen siendo
similares a los previamente observados en la industria manufacturera. Los datos del Sindicato
de Trabajadores de Telemarketing (SINTRATEL, c2016) relacionados con enfermedades
ocupacionales indican que el 36% de estos trabajadores sufren de lesiones por esfuerzo
repetitivo (LER), el 30% de trastornos psicológicos y el 25% tiene alguna pérdida de audición
o voz. Entre los trastornos psicológicos, hay informes de suicidio. Los alarmantes índices de
enfermedad en el trabajo en esta categoría colocan a estos trabajadores en una situación de Nuda
Vida (AGAMBEN, 2002), ya que estas empresas promueven el acoso moral organizacional,
resultando en enfermedades ocupacionales, que pueden conducir a la muerte. Además, la falta
de actuación del Estado a través de la debida regulación, ya que lleva en el Congreso Nacional
más de diez años, un Proyecto de Ley que regula la profesión de operador de telemarketing,
permite lo dejar morir se torna aceptable, evidenciando la manifestación de necropolítica
(MBEMBE, 2018). Teniendo en cuenta estas consideraciones, se plantea la cuestión central que
impulsa este trabajo: A partir de una comprensión ampliada del concepto agambeniano de Nuda
Vida, que se practica contra los trabajadores de hoy, especialmente los teleoperadores, ¿cuál es
la relación entre esta experiencia de desprotección social y la ejecución de la necropolítica
perpetradas contra estas personas y cuáles son las implicaciones? de esta relación en la salud
de estos trabajadores y en la salvaguarda de los derechos humanos y laborales? La hipótesis es
que la precariedad laboral afecta especialmente al sector del telemarketing, en el que la
“flexibilización” de las condiciones laborales de estos trabajadores se expresa de forma muy
contundente debido a la estructura de este sector, en el que todo se vuelve precario. Así, el
objetivo es investigar la precariedad del trabajo con foco en el sector del telemarketing, si estos
trabajadores encajan en las concepciones de Nuda Vida y necropolítica y cuáles son las
repercusiones de esta relación en la salud de estos trabajadores y en la salvaguarda de los
derechos humanos y laborales. La comprensión de la precariedad vivida por los teleoperadores
se amplificó (Nuda Vida y Necropolítica) al abordar la realidad desde la perspectiva de la
sociología jurídica. Se utiliza investigación bibliográfica y de campo y se desarrolla un análisis
cualitativo de los registros médicos proporcionados por el Centro Regional de Referencia de
Salud Ocupacional (CEREST-JP) de João Pessoa-PB, para el período de 2018 a 2021. A partir
del análisis de las historias clínicas, en este estudio se confirma la hipótesis de que los
teleoperadores se ven afectados por enfermedades ocupacionales derivadas de la precariedad
de las relaciones en el ámbito laboral.