La representación de la soledad: un análisis del paisaje surrealista

Abstract

La presente tesis doctoral tiene por propósito el estudio de la soledad —en el sentido dilatado del término— en relación con la práctica y la subjetividad artística contemporánea y específicamente con la surrealista. Pretendemos con ella abordar el afecto en su historicidad y en relación con los cambios sociales, políticos y estéticos que se suceden en la pasada centuria tomando como marco cronológico los años de vida del propio movimiento, 1924-1969. Estimando que la soledad, por su propia naturaleza, no puede imaginarse sino en los límites de una estética relacional—es decir, no posee una iconografía propia en sentido estricto sino varias—, el trabajo que se plantea lo hace desde dos vertientes: la primera parte de la tesis estará dedicada a ahondar en la soledad a partir de las figuraciones del yo surrealista (mediante el genio, el deseo o el inconsciente), mientras que la segunda la atenderá tomando en consideración la representación de paisajes (desiertos, bosques y ciudades). A modo de coda repararemos también en la evolución histórica de la soledad a partir de la experiencia del exilio y hasta la muerte del movimiento, autoproclamada por Jean Schuster en 1969. La hipótesis que vertebra esta investigación es que la soledad, por su ambigüedad, fue una cuestión central para los surrealistas. Sin condenarla ni celebrarla al completo, la soledad es una constante en las obras surrealistas ya fuere de manera directa o sobrevolando todo el resto de obsesiones del grupo. En esencia, la soledad se presentó como el espacio del yo, es decir, un lugar tanto individual como colectivo en el que observar los límites de la sociedad en la que vivían y soñar con la que aspiraban. Lo que encontraremos en las prácticas e invenciones que pueblan este ensayo son, por tanto, las múltiples tentativas de los surrealistas por construir un sujeto político común, a partir de la preservación de las libertades personales. Así pues, defendemos que el surrealismo habita una contradicción no paralizante, sino fructífera: la soledad no es solo denunciada o combatida sino un campo en el que se juega la propia creación. Por ello, valoraremos las vacilaciones, los estadios ambiguos —entre grupales y solitarios—, que se dan en el devenir del movimiento. De este modo, las dos primeras partes de este texto se ocupan de identificar y justificar las iconografías en las que se figura el afecto a lo largo de la década de los veinte y los treinta, mientras que en la última indagaremos en la evolución a la que se ve sometido en el exilio. Finalmente, nos detendremos en un episodio histórico particular, las revueltas de los años sesenta, que culminan en el episodio del Mayo francés de 1968, cuya vinculación con el surrealismo ya ha sido ampliamente demostrada. La pretensión es estudiar qué ocurre con la soledad en aquel canto de cisne de lo colectivo que fue este acontecimiento social y cultural, pues supuso también el ocaso del surrealismo. En aras de acotar el material de análisis, en este escrito se contempla únicamente el surrealismo figurativo y el quehacer de aquellos artistas que formaron total o parcialmente parte del grupo bretoniano. Asimismo, juzgando que la cuestión del género atraviesa todos los aspectos de la vida, también aquella más íntima de los afectos y las pasiones, hemos tratado de aplicar dicha perspectiva. Ponderaremos el valor que reviste lo femenino en esta figuración masculina de la soledad en el surrealismo. Por ello, la aproximación que proponemos se hace únicamente a partir de obras de artistas masculinos, puesto que coincidimos con respetados especialistas en que la patologización de la soledad es un problema exclusivo del hombre blanco occidental, que trata, mediante esta, de legitimar la vigente estructura patriarcal y, diremos además, burguesa. Esta disertación pretende contribuir a su deconstrucción.

O objetivo desta tese de doutorado é o estudo da solidão -no sentido amplo do termoem relação à prática artística e à subjetividade contemporâneas e especificamente com o surrealista. Pretendemos abordar o afeto na sua historicidade e em relação às mudanças sociais, políticas e estéticas ocorridas no século passado. Para isso, vamos tomar como enquadramento cronológico os anos de vida do próprio movimento: 1924- 1969. A solidão, pela sua própria natureza, não pode ser imaginada senão dentro dos limites de uma estética relacional, ou seja, não possui uma iconografia em sentido estrito, mas várias e apenas pode ser demonstrada com os vínculos (ou a falta deles) do sujeito com os outros, com o mundo e consigo mesmo. Assim, este trabalho aborda dois aspectos na representação da solidão: a primeira parte da tese vai ser dedicada a aprofundá-la a partir das figurações do eu surrealista (através do gênio, do desejo ou do inconsciente), enquanto a segunda estuda a solidão em consideração a representação de paisagens (desertos, florestas e cidades). Como coda vamos ver também a evolução histórica da solidão desde a experiência do exílio e, pouco depois, durante a década de sessenta, até à morte do movimento, autoproclamada por Jean Schuster em 1969. A hipótese que sustenta esta investigação é que a solidão, pela sua ambiguidade, era uma questão central para os surrealistas. Sem condená-la nem celebrá-la por completo, a solidão é uma constante nas obras surrealistas, seja de forma direta ou ao parar sobre todas as demais obsessões do grupo. Em essência, a solidão foi apresentada como o espaço de si, ou seja, um lugar ao mesmo tempo individual e coletivo para observar as contradições da sociedade em que viviam e sonhar com outra a que aspiravam. O que vamos encontrar nas práticas e invenções que povoam este ensaio são, portanto, as múltiplas tentativas dos surrealistas de construir um sujeito político comum, baseado na preservação das liberdades pessoais. Assim, argumentamos que o surrealismo habita uma contradição que não é paralisante, mas fecunda: a solidão não é apenas denunciada ou combatida, mas um campo em que a própria criação é desenrolada. Por isso vamos valorizar as hesitações, as etapas ambíguas –entre grupos e solitários– que ocorrem no futuro do movimento. Dessa forma, as duas primeiras partes deste texto preocupam-se em identificar e justificar a iconografia em que esse afeto se configura ao longo das décadas de 1920 e 1930, enquanto na última vamos investigar a evolução de quem é submetido no exílio. Finalmente, detemo-nos num episódio histórico particular, as revoltas dos anos sessenta, que culminam no episódio do Maio francês de 1968, cuja ligação com o surrealismo já foi amplamente demonstrada. Pretende-se estudar o que acontece com a solidão naquele canto do cisne do coletivo que foi este acontecimento social e cultural, pois também marcou o declínio do surrealismo. Com o intuito de limitar o material de análise, este artigo contempla apenas o surrealismo figurativo e a obra dos artistas que fizeram parte, total ou parcialmente, do grupo bretoniano. Da mesma forma, ao jugar que a questão do género é transversal a todos os aspectos da vida, incluindo os mais íntimos dos afectos e das paixões, vamos aplicar esta perspectiva. Vamos ponderar o valor do feminino nesta figuração masculina da solidão no surrealismo. Por isso, a abordagem que propomos é feita apenas a partir de obras de artistas homens, pois concordamos com respeitados especialistas que a patologização da solidão é um problema exclusivo dos homens brancos ocidentais, nas suas tentativas de legitimar a atual estrutura patriarcal e acrescentamos, burguesia do sujeito. Esta dissertação pretende contribuir para a sua desconstrução.