Significance and framing of the gender factor in the reproduction of intimate partner violence

Abstract

We maintain that, although the greatest share of intimate partner violence has its origin in ‘endemic’ factors of intimate communication, inherent to the high investments and expectancies in which it is sustained; such violence cannot be adequately addressed and understood if severed from the socio-cultural field, where gender normativity assumes great relevance. Intimacy is characterized by a paradoxical dependency towards exterior communicative processes in which their members take part, so that, in what concerns gender, it is not just a space of reproduction of symbolic asymmetries but also a receptacle of its increasing fluidity. But if gender attributions are open to greater interactive negotiation, in intimacy there remain traditional ascriptions. Here, the romantic conception of love plays a major role, not only enhancing differentials of power and distribution of resources, but also masking practices of abuse which have their extreme (and sometimes lethal) recourse in violence.

No presente trabalho defende-se que, apesar de grande parte da violência entre parceiros íntimos ter origem em fatores endémicos – inerentes às elevadas expectativas em que está sustentada a comunicação na intimidade –, ela não pode ser adequadamente compreendida cindida do entorno sociocultural, no qual a normatividade de género assume grande relevância. A intimidade é caracterizada por uma dependência paradoxal relativamente aos processos comunicativos exteriores onde tomam parte os seus "membros", sendo que no que concerne aos padrões de género, ela não é somente reprodutora das assimetrias simbólicas, mas é também, e sobretudo, recetáculo da sua crescente fluidez. Sendo certo que as atribuições de género se tendem a concretizar por negociação interativa, na intimidade subsistem certas determinações tradicionais. Neste ponto, as conceções de amor romântico assumem um papel preponderante, propiciando diferenciais de poder e distribuição de recursos, mas camuflando também práticas de abuso que têm o seu extremo no recurso à violência.